VOCÊ SABE QUAL A DIFERENÇA ENTRE PREVENIR DOENÇAS E PROMOVER A SAÚDE?

 

Ernande Valentin do Prado

 

A saúde pública é um campo complexo e multifacetado, sobretudo quando é pensada com integralidade, o que deve ser regra no SUS. Por isso desenvolveu diversas abordagens e estratégias para fomentar o bem-estar da população e alcançar saúde.

Duas dessas abordagens, a prevenção de doenças e a promoção da saúde, embora estejam interligadas, têm diferenças importantes, principalmente nas intencionalidades de cada uma. Agora vamos falar sobre estas diferenças e sobre sua importância para sua saúde.

Vamos começar falando da Prevenção de Doenças.

Claro que você sabe o que é prevenção de doenças, desde crianças deve ouvir  que prevenir é o melhor remédio, não é verdade?

A prevenção tem como foco evitar as doenças e, se não for possível, evitar que ela se agrave e mate. Neste sentido, a vacinação anual contra gripe é uma estratégia de prevenção da gripe, concorda?

A vacinação contra a gripe, contra a COVID-19, nem sempre evita estas doenças, mas é certo que diminui a gravidade e que mate o doente. Já a vacinação contra a poliomielite, esta evita de fato a doença.

Mas a prevenção de doenças não se faz só com vacina. Por exemplo, fazer exercícios, diminuir o consumo de sal, de álcool, diminui o risco de hipertensão e diabetes. Tenho certeza que já ouviu falar disso.

A prevenção de doenças se concentra na identificação de fatores de risco, como comer muito sal ou não usar capacete ao pilotar uma moto. E na implementação de medidas para controlá-los. Como orientações em consultas e ações de saúde e campanhas nas mídias para divulgar os riscos do excesso de sal nos alimentos, de acelerar no trânsito e até da jogatina no descontrole da vida financeira.

Agora, falar de Promoção da Saúde é um pouco mais complicado.

Antes de tudo, é bom deixar claro que a promoção da saúde foi pensada para expandir ações e a abrangência dos serviços de saúde em países onde questões básicas como a prevenção e o tratamento das doenças corriqueiras como a diarreia ou a dengue, já não representavam um desafio tão grande, como ainda hoje representa no Brasil.

Além disso, a Promoção da Saúde tende a responsabilizar individualmente o sujeito pelos resolver os seus problemas de saúde, o que pode fazer todo sentido no Canadá ou na Suécia, mas não na América Latina, percebe?

Por exemplo, se alimentos salgados aumentam o risco de hipertensão, então cabe ao indivíduo comer com menos sal. O que não está errado, até certo ponto, mas e se a indústria alimentícia salga demais os alimentos, como acontece com os embutidos? E se a escola, no intervalo, distribuir merenda industrializada e não legumes e frutas frescas ou se na cantina da escola vende refrigerantes e chocolates, como os estudantes irão evitar estes alimentos que provocam maior risco de adoecer?

Mas a promoção da saúde ainda tem outros aspectos, como o empoderamento político da comunidade, para que possam juntos construir ruas, bairros e cidades mais saudáveis e diminuir os riscos de agravos e de doenças.

Claro que tudo isso também previne doenças, não é mesmo?

São muitas as nuances para diferenciar prevenção de promoção e não dá para explicar todas, mas uma delas está na intencionalidade e para compreender bem precisa de abstrair um pouco.

Por exemplo, ao orientar o Seu Jorge sobre a importância de deixar de fumar, a intenção do profissional é evitar e diminuir o risco dele desenvolver um câncer pulmonar, de um enfisema, de diminuir o tempo que perde fumando e trabalhar e produzir mais na obra é pedreiro?

Ou é promover uma vida mais saudável, para que Seu Jorge possa viver mais, desfrutar das boas coisas da vida, conviver mais e melhor com sua família e amigos e até para que saboreei com gosto uma cervejinha com os amigos no churrasco de seu aniversário?

Ficou mais fácil entender a diferença de intencionalidade?

Quase sempre, quando se promove saúde, também se está prevenindo doenças, mas o contrário nem sempre. Pense sobre isso depois.

Outra coisa importante: a prevenção de doenças, de certo modo, pode ser feita atacando aspectos isolados. Lembra daquela parábola sobre as crianças se afogando no rio?

Na história, dois pescadores estão salvando crianças, uma de cada vez. Ou seja, estão prevenindo que se afoguem. Até que um deles resolve descobrir o que está provocando essa onda de crianças se afogando. Então ele sobe a margem do rio para investigar.

Neste caso, o pescador buscou agir nos determinantes do afogamento. O que ele fará e sobretudo como ele fará para evitar que novas crianças continuem se afogando, vai dizer se a ação é de prevenção de doenças ou promoção da saúde.

Por exemplo, se individualmente ele cercar o rio e por uma placa de proibido nadar, estará fazendo o que?

Se ele reunir a comunidade para discutir o risco de crianças nadar sem a supervisão de adultos e juntos, pescador e comunidade, criar uma forma dialogada de evitar o problema, estará fazendo o que?

Deu para entender que promoção de saúde vai além da prevenção de doenças, que diz respeito também à felicidade, à potencializar a vida das pessoas para além de simplesmente ficar doentes e morrer?

Para terminar, é importante dizer que a prevenção de doenças e a promoção da saúde são duas faces da mesma moeda. Ambas são essenciais para garantir o acesso universal, com integralidade e equidade às ações e serviços de saúde, como preconiza o SUS, concorda?

Cada abordagem tem o seu lugar e o seu momento e uma não é mais importante do que a outra.

REFERÊNCIAS

CASTRO, A. M. de. Promoção da Saúde: controvérsias e aposta. In: MELO JÚNIOR, W. et al. (org.). Mobilização, Cidadania e Participação Comunitária. 5. ed. Rio de Janeiro: Espaço Artaud, 2016. p. 100–121.

OMS. Carta de Ottawa. Ottawa, 24 jul. 1996. Disponível em: http://www.opas.org.br/promocao/uploadArq/Ottawa.pdf.

PRADO, E. V.; FALLEIRO, L. M.; MANO, M. A. Cuidado, Promoção de Saúde e Educação Popular – porque um não pode viver sem os outros. Revista de APS, Juiz de Fora-MG, v. 14, n. 4, p. 464–471, 8 dez. 2011.

SEVALHO, G. A colonização do saber epidemiológico: uma leitura decolonial da contemporaneidade da pandemia de COVID-19. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 5629–5638, 2021.

 


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