12 MORTES POR HORA: O PREÇO DA "BEBEDEIRA" NO BRASIL (E NO SEU BOLSO)
Ernande Valentin do Prado
Você já
parou para pensar no impacto que o consumo excessivo de álcool causa na nossa
sociedade? Um estudo recente da Fiocruz revelou um dado chocante: a cada hora,
12 brasileiros perdem a vida em decorrência do álcool. E os custos para o SUS e
para a sociedade como um todo são bilionários. Mas afinal, o que leva as
pessoas a beber em excesso? Será que as músicas e as propagandas influenciam
esse comportamento?
Você sabe quanto custa a "bebedeira" no Brasil?
Não estou falando apenas da sua conta no bar do Jorge, mas de um
prejuízo bilionário para o país e para o SUS. Uma pesquisa da Fiocruz, liderada
por Eduardo Nilson do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin),
revelou que o consumo de álcool custou R$ 18,8 bilhões ao Brasil em 2019. O
estudo, intitulado "Estimação dos custos diretos e indiretos
atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil", foi realizado pela
Fiocruz Brasília.
Desse total, 1,1bilhão foram gastos pelo SUS com internações
e tratamentos. Já as perdas de produtividade, licenças e aposentadorias precoces
somaram 1,1bilhão. O álcool também é responsável por 12 mortes
por hora no Brasil, totalizando mais de 100 mil óbitos por ano, principalmente
de homens.
O álcool não afeta apenas quem bebe, mas também suas famílias e amigos. O custo social é incalculável. No site da Fiocruz tem o estudo completo. Eu sugiro que dê uma olhada, caso o tema te interesse.
Será que a música sertaneja universitária influencia na bebedeira?
O sertanejo universitário, também chamado de agronejo, é um gênero
musical popular no Brasil, por isso tem grande influência na formação dos
valores culturais, sobretudo de quem consome este gênero de
música. Até aí nenhum problema. Parece que os temas prioritários destas músicas
são festas, relacionamentos e consumo desembestado de álcool. Algumas
músicas abertamente incentivam o consumo de bebidas alcoólicas, associando-o a
momentos de diversão, descontração e até mesmo superação de problemas amorosos.
Tenho certeza de que você conhece vários exemplos, estou
certo?
Agora é que vem um outro aspecto interessante e controverso desta
possível relação entre bebidas e o agronejo. Muitos de seus autores
ou intérpretes são artistas conhecidos por suas posições políticas
conservadoras e de extrema direita. Essas posições parecem contraditórias com o
conteúdo de suas letras ou não?
A relação entre a estratégia fascista de condenar em público o
que faz no privado parece parte da estratégia do discurso de alguns músicos
do agronejo. Não se pode afirmar que todos os artistas do gênero adotem
essa estratégia de forma consciente e intencional, mas, apenas ouvindo — até
sem muita atenção e sem querer — percebe-se o padrão.
Alguns músicos defendem publicamente valores como a família, a religião
e a moderação, enquanto em suas músicas e entrevistas promovem o consumo de
álcool como forma de diversão, escape ou superação de problemas, sem se
importar com as consequências para o público. Essa dicotomia entre o
discurso público e a prática privada pode ser vista como uma forma de
hipocrisia, uma forma de agradar diferentes públicos e manter uma imagem de
"bom moço", ao mesmo tempo em que se beneficia da popularidade do
álcool e angaria patrocinadores para seus shows.
É importante lembrar que o sertanejo universitário é um gênero musical
que se desenvolveu em um contexto social e político específico, marcado pelo
crescimento do agronegócio, pelo conservadorismo e pela ascensão de valores
individualistas e hedonistas. Nesse contexto, a promoção do consumo de álcool
pode ser vista como uma forma de reforçar esses valores e de alienar o público
em relação aos problemas sociais e políticos.
Para terminar
É importante ressaltar que nem todas as músicas sertanejas incentivam o consumo
de álcool de forma direta, e que a associação inequívoca entre elas e
os abusos é algo muito difícil. No entanto, é inegável que algumas
letras contribuem para a normalização e até mesmo para a glorificação do
consumo de bebidas alcoólicas, o que pode ter um impacto negativo na saúde
pública.
A relação entre o estudo da Fiocruz e o incentivo ao álcool presente em
algumas músicas sertanejas é um tema complexo que merece ser debatido. É
importante analisar criticamente as letras das músicas, as posições políticas
dos artistas e o impacto da cultura na promoção do consumo de álcool.
A conscientização sobre os riscos do consumo excessivo de álcool é
fundamental para a construção de uma sociedade mais saudável e justa. E talvez,
só talvez, fosse interessante debater não apenas o álcool, mas todas as drogas
lícitas e ilícitas. É certo que proibir não é uma política saudável e
sustentável e causa mais malefícios à sociedade do que a proibição
pura e simples. Por outro lado, será que regulamentar a forma como se promove e
vende esses produtos não é importante?
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